Mattel descarta construir fábricas próprias e negocia com cinco empresas a fabricação no país de produtos como a famosa boneca e os carrinhos Hot Wheels, segundo diretor.
São Paulo – Mesmo depois de anos de namoro com o boneco Ken, o único casamento que a Barbie procura é com alguma empresa brasileira que aceite fabricar milhares de loiras de plástico no Brasil. E não se trata de uma relação monogâmica. Atualmente a Mattel, fabricante da boneca, negocia com cinco empresas para produzi-las no país. Além dela, os carrinhos da Hot Wheels – o brinquedo importado em maior volume pela empresa --, os jogos de tabuleiro e bonecas Little Mommy também estão na mesma missão.
Nos últimos dez anos, a Mattel, maior fabricante de brinquedos do mundo, investiu 500 milhões de reais para o Brasil – hoje o terceiro mercado para o grupo, atrás dos Estados Unidos e México. Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), o setor deve movimentar 3,56 bilhões de reais neste ano – um salto de 15% em relação a 2010. “Os brinquedos ainda são o carro-chefe da Mattel, mas queremos também mais parcerias para ampliar portfólio”, diz Ricardo Roschel, diretor de operações da Mattel no Brasil e responsável por relações governamentais há 11 anos. Leia os principais trechos da entrevista concedida a EXAME.com.
EXAME.com – O Brasil é hoje o terceiro maior mercado da Mattel. Há planos para ter fábricas próprias no país?
Ricardo Roschel - Não. Hoje o grupo tem nove fábricas próprias -- duas no México, quatro na China, uma na Indonésia, uma na Malásia e uma na Tailândia – que são suficientes. Queremos crescer por meio de parcerias, algo que já fazemos hoje.Trabalhamos com 60 empresas no Brasil para a fabricação de nossos produtos, como Avon, Grendene, Tectoy, C&A, Faber Castell e Colgate. Por exemplo, os jogos de cartas Uno, produzidos pela Copag, na zona franca de Manaus. Passamos de 50.000 unidades em 2004 e para três milhões neste ano. Queremos aproveitar o melhor de nossos parceiros locais que tem tecnologia e inovação para produzir bons produtos. Isso tornaria o mercado nacional mais competitivo e é o que queremos.
EXAME.com – Mas uma fábrica no país também contribuiria para isso, além de gerar mais empregos e evitar custos com a importação que hoje está em 35%.
Roschel - Sim, mas a orientação global da empresa é buscar parceiros fortes. As fábricas próprias já são suficientes.
EXAME.com – E há negociações com novos parceiros?
Roschel - Estamos com uma lista de cinco empresas, mas por uma cláusula de confidencialidade não posso dizer quais são. Espero fechar esses novos acordos até o ano que vem, mas não sei dizer se no primeiro ou segundo semestre. Já discutimos o assunto com a matriz e visitamos muitos possíveis parceiros até chegar neste número.
EXAME.com – Quais são os produtos que podem ter uma produção no Brasil?
Roschel - A Barbie, as bonecas Little Mommy, Hot Wheels e jogos de tabuleiro estão nos nossos planos. Os carrinhos da Hot Wheels, aliás, são os que mais importamos, por isso uma produção local compensaria.
EXAME.com - Como a Mattel pretende manter as vendas de brinquedos com uma geração cada vez mais ligada em tecnologia?
Roschel - A Mattel realiza diversos estudos para entender o mercado e reconhecemos a influência da tecnologia, rapidez das comunicações e a globalização na infância. Estamos nas redes sociais com twitter, facebook, na TV com filmes de Barbie, Max Steel, Hot Wheels Battle Force 5. No ano passado, por exemplo, lançamos a Barbie Video Girl, que vem com uma câmera embutida que permite que a menina faça seus próprios vídeos, edite e compartilhe com suas amigas nas redes sociais. De Fisher-Price, temos filmadora e câmera digital cujos arquivos podem ser baixados no computador. Em 2011, lançamos o Ken Fala Comigo em comemoração aos 50 anos do boneco. É uma versão falante que, por meio de um dispositivo de gravação de voz, registra mensagens e reproduz em três versões: a voz original, a voz do Ken e uma voz mais alta. A inovação está em nosso DNA.
EXAME.com - Os licenciamentos têm ganhado mais peso para a Mattel nos últimos anos, não?
Roschel - Não gosto muito da expressão “produto licenciado”. Parece que nós apenas emprestamos a marca Mattel, mas na verdade existe um comitê que acompanha todo o desenvolvimento de um novo produto. Recentemente fizemos uma linha de produtos infantis para a Cia. Marítima, com biquínis estampados com a Barbie. Nesse caso a empresa nos procurou. Mas é claro que sempre buscamos as categorias que iremos atuar. Os brinquedos ainda são o carro-chefe da Mattel, mas atuamos também em alimentos, cama mesa e banho, calçados cosméticos, artigos esportivos, papelaria, artigos de viagens. Esse movimento sempre existiu. Também conseguimos bastante receita com as parcerias com os estúdios para desenvolver produtos baseados em animações como Carros e Avatar, mas não sei dizer quanto isso representa no faturamento.
EXAME.com - O aumento de 20% para 35% na taxa de importação de brinquedos, imposto pela Câmara de Comércio Exterior no final do ano passado, alterou os planos da Mattel no Brasil?
Roschel - Não mudamos a estratégia. Continuamos a importar a mesma quantidade de produtos.
EXAME.com - Quanto a mais a empresa gasta com a nova alíquota?
Roschel – O que eu posso dizer é a consequência. Houve um aumento de 6% nos preços dos produtos.
EXAME.com – Isso dificulta a concorrência com os produtos chineses, não? Como pretendem evitar que isso aconteça?
Roschel – Justamente com a ampliação da produção local, que vai eliminar essa taxa de importação e derrubar nossos preços para sermos mais competitivos. A China é o maior produtor de brinquedos do mundo e já conta com uma qualidade avançada. Temos de ter incentivos à indústria local, não de proteção como acontece hoje. Infelizmente o setor tem uma das taxas mais altas. Quanto maior o imposto, maior será a informalidade. O mercado informal é duas vezes o mercado informal.
EXAME.com - Em junho, o senhor teve um encontro com Fernando Pimentel, ministro da Indústria e Comércio. O que conversaram?
Roschel – Como também sou representante da parte de relações governamentais, preciso conhecer os interlocutores do governo para mostrar quem é a Mattel e o quão comprometida a empresa está com o mercado nacional. Hoje 50% de tudo o que é comercializado é produzido localmente. O governo quer investir na produção local e preciso estar em contato com eles. O objetivo da reunião foi apresentar a empresa e mostrar nossa atuação no mercado local e internacional.
Fonte: http://exame.abril.com.br/negocios/empresas/noticias/procuram-se-parceiros-para-a-barbie-no-brasil?page=3&slug_name=procuram-se-parceiros-para-a-barbie-no-brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário