A fabricante de games e brinquedos de maior sucesso no Brasil nos anos 90 vive uma crise que já dura 16 anos. Para sair dela, está virando uma prestadora de serviços
Muito antes de os cabelos ficarem grisalhos, no início dos anos 80, Fernando Fischer gastava horas brincando nos consoles Mega Drive. Seu jogo preferido era Castle of Illusion, onde Mickey Mouse resgatava a namorada Minnie de um castelo assombrado. Era um dos poucos videogames disponíveis no Brasil, pioneirismo da Tectoy, empresa que fazia a alegria de crianças e adultos fascinados pelos eletrônicos. Quem nasceu até o começo da década de 80 também deve se lembrar do ursinho falante Teddy Bear e da pistola Zillion, imbatíveis nas prateleiras. Pois bem. Essa Tectoy não existe mais. Caiu com a decadência da parceira japonesa Sega, que lhe garantia a exclusividade na venda dos melhores videogames da época. Como resultado, viveu os últimos 16 anos em crise, alternando produtos como quem tenta passar de fase em um jogo. Foi aí que Fischer voltou à história. O ex-cliente é o atual presidente da companhia.
Sua missão é tirar a Tectoy de seguidos prejuízos anuais iniciados em 1995. A intenção, agora, é abrir as portas das fábricas às empresas estrangeiras, tornando-se fornecedora de máquinas, mão de obra e logística. Fischer diz que existem negociações adiantadas com americanos, japoneses e chineses. Pode ser uma boa saída para retomar os tempos de grandes contratos e lucros fartos.
Jogo duro
A primeira fase da Tectoy foi brilhante: ela vendeu 5 milhões de consoles do Master Systems e do Mega Drive e mais de 25 milhões de cartuchos, liderados pelo porco-espinho Sonic. Fora o Japão, não houve um mercado onde a parceira Sega tenha feito mais sucesso do que no Brasil. O jogo mudou de dificuldade para a Tectoy com o declínio da Sega. A desenvolvedora investiu em videogames que trocaram os cartuchos pelos CDs, mas estes nunca repetiram o sucesso dos antecessores. Os altos gastos no desenvolvimento e o baixo retorno obrigaram a japonesa a abandonar os consoles. Pior para a Tectoy.
Sem direção clara, a empresa passou os anos seguintes relançando produtos antigos na tentativa de reencontrar o sucesso (leia quadro). Lá fora, a briga entre Microsoft, Nintendo e Sony tomou as rédeas do mercado de games. A brasileira estava a anos-luz destes concorrentes. Em 2006, o endividamento correspondia a quase todo o seu patrimônio. Ou seja, a Tectoy estava prestes a falir. A primeira aposta de Fischer, pouco depois de assumir a presidência, foi apelar ao “DNA da empresa”: um novo videogame. Desenvolvido junto à Qualcomm, o Zeebo parecia o projeto perfeito para desafiar os índices galopantes de pirataria no Brasil – os jogos eram baixados por 3G. Doce ilusão. A pesada taxação de games e os altos custos no desenvolvimento tornaram o Zeebo caro demais e poderoso de menos para enfrentar o PlayStation 2, da Sony. O que deveria ser uma boia se tornou uma âncora – foram vendidos pouco mais de 30 mil consoles no Brasil, enquanto se esperava um número 20 vezes maior. Em vez da rentabilidade, o Zeebo aumentou a dívida. “Não fosse ele, a Tectoy já operaria no azul”, afirma Stefano Arnhold, presidente do conselho.
A empresa, então, deixou o projeto de lado, virou acionista minoritária na joint venture criada com a Qualcomm e tirou o Zeebo do seu dia a dia. Não eram os games, portanto, que garantiriam vida extra à Tectoy, mas a produção de DVDs, iniciada em 2003. Em cinco anos, o número de tocadores vendidos quadruplicou. Eles são, hoje, a principal fonte de receita da empresa. O restante vem, principalmente, dos consoles outrora campeões de vendas: com, no mínimo, 21 anos, os games respondem por um terço do faturamento da Tectoy. Enquanto alguns brasileiros se estapeiam para comprar iPads e iPhones, outros parecem blindados à rápida evolução da tecnologia: todo ano, ainda são vendidos quase 160 mil desses videogames por aqui. O Brasil é o único país que continua a produzir o Master System e o Mega Drive. Ainda assim, a Tectoy tem um balanço que cheira a naftalina.
É deste anacronismo que Fischer espera se livrar ao adotar a postura de porta de entrada para fabricantes estrangeiros de eletrônicos que queiram explorar o Brasil. “Fizemos uma sessão de terapia e vimos que tínhamos três coisas que caíam no mesmo cesto: manufatura de qualidade, habilidade excepcional com o varejo e áreas de pós-venda e call center”, diz. A estratégia é aproveitar o movimento de empresas estrangeiras que, para evitar a alta carga tributária, investem na fabricação nacional de eletroeletrônicos. Empresas que queiram produzir no Brasil sem investir em fábrica, estrutura logística ou telemarketing são o alvo da Tectoy. “Se o cliente quiser um dos serviços, tudo bem. Se quiser os três, tudo bem. É o nosso ‘kit McDonalds’.” Foi o caso da Humax, primeira parceria fechada no final de 2010. Pelo contrato de três anos, a Tectoy será um dos fornecedores de set-top boxes usados pelos clientes do serviço de TV por assinatura Sky. O centro da estratégia da Tectoy é sua fábrica em Manaus. Quanto maior a demanda da Sky, mais set-top boxes saem dali. Em um ano, a capacidade da fábrica foi quintuplicada e o número de funcionários mais que dobrou. Ainda assim, ela vem operando perto do limite e um novo contrato nos moldes deste exigiria uma segunda instalação.
Com a Humax, a empresa quebrou uma tradição financeira carregada desde sua fundação: como se especializou em vender brinquedos, os balanços da Tectoy sempre dependeram excessivamente do segundo semestre, com o Dia das Crianças e o Natal. Só nos primeiros seis meses de 2011, a Tectoy já faturou quase 80% da receita do ano passado inteiro. No novo balanço que Fischer espera apresentar em 2012, a prestação de serviços deverá ser a segunda fonte de receita. E, com o natural declínio da venda de DVDs, poderá se tornar o carro-chefe nos próximos anos. Parece um bom caminho para a Tectoy parar de perder dinheiro. Sob as rígidas regras da Comissão de Valores Mobiliários que regulam empresas de capital aberto, Fischer apenas meneia a cabeça quando questionado se, depois de 16 anos, a empresa voltará a dar lucro.
Ao tentar tirar seu visto para os Estados Unidos, o presidente encontrou uma atendente no consulado americano que lhe deu preferência quando viu a marca nos documentos. “Você trabalha na Tectoy?”, ela perguntou. Fischer torce apenas para que o prestígio da marca não se resuma a episódios como o do consulado – uma lembrança na cabeça de garotos e garotas agora crescidos.
Fonte:
Olá Cassio,
ResponderExcluirParabéns pelo blog... e quanto a tectoy, sem nenhuma novidade?
abs,
Renato
Renato, bom dia!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, até o momento não teve mais nenhuma novidade. A única preocupação minha e de outras pessoas que eu converso nos fóruns é um grupamento, porém, já liguei e questionei o Sr.Milton da Relação com os Investidores e ele disse que no momento, isto é fora de cogitação, o que me tranquiliza bastante. Abraços e boa sorte!